A Infraero quer retomar os voos comerciais a jato no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, e começa a causar atrito com seus sócios privados da BH Airport, concessionária de Confins.
O terminal da Pampulha, que a partir de 2005 transferiu os voos de longa distância para Confins, atua hoje com aviação executiva e regional no Estado. Nele, só estão autorizados aviões menores.
A Folha teve acesso a uma troca de correspondências entre a presidência da BH Airport e da Infraero, enviada com cópia a Maurício Quintella, ministro do Transportes.
Em carta enviada em 9 de novembro, o presidente da BH Airport, Paulo Rangel, diz ao presidente da Infraero, Antônio Claret de Oliveira, que a retomada dos voos comerciais em Pampulha pode gerar forte concorrência ao aeroporto de Confins, prejudicando a própria Infraero.
Confins foi concedido em 2014 com participação da Infraero de 49%. Os acionistas privados, Grupo CCR e Aeroporto de Zurich, têm 51%.
Para Rangel, a concorrência de Pampulha causará ociosidade em Confins, um projeto que já carrega dívida e dificuldade de obter financiamento. "Levaria à necessidade de aportes de capitais adicionais pelos acionistas, com impacto negativo ao caixa da própria Infraero", diz a carta.
Ele anexou estudo que diz que, para cada R$ 1 que a Infraero viesse a receber na Pampulha, ela mesma poderia perder mais de R$ 1,10 em sua sociedade em Confins.
Segundo o cálculo, apesar de gerar receita de R$ 205,7 milhões nos próximos cinco anos em Pampulha, a estatal teria custos de R$ 225,9 milhões com investimentos no aeroporto e desembolso adicional em Confins.
Segundo a BH Airport, o edital de licitação, que guiou o plano de negócios na época, contemplou uma projeção de demanda que não considerava um segundo aeroporto na região para aviões comerciais a jato.
O aeroporto de Confins abriu novo terminal neste mês, fruto de investimento de R$ 870 milhões da BH Airport.
Segundo os cálculos anexados por Rangel à correspondência, a reativação de Pampulha causaria perda de receita de R$ 315 milhões à concessionária até 2021.
Em resposta em 25 de novembro, o presidente da Infraero nega que haverá retirada de tráfego de Confins e justifica que as concessões foram feitas para "fomentar concorrência" e dar opções de escolha aos usuários.
A abertura de Pampulha aos grandes jatos comerciais sofre pressão contrária dos moradores do entorno, mas agrada a viajantes devido à localização central, uma vantagem em relação a Confins.
Efeito Galeão
Procurada, a Infraero confirma estar em contato com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para avaliar a possibilidade de ampliar a operação de grandes aviões.
Há um receio dentro do governo de que, em um momento de queda na demanda, o aeroporto de Confins possa ter um destino similar ao do Galeão, no Rio de Janeiro, que está endividado e tem a Infraero como sócia.
O impacto da concorrência de Pampulha pode deixar o consórcio, inclusive a Infraero, em dificuldade para o pagamento das outorgas.
O Galeão sofreu com a queda de receitas devido à recessão e com os custos extraordinários pelas obras da Copa, que deveriam ter sido pagos pela Infraero.
A Abear, que representa as companhias aéreas, não se posiciona em relação a casos específicos, mas, de maneira geral, diz que apoia o aumento da competitividade por meio de investimentos em infraestrutura aeroportuária.
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