Nos quase 40 anos em que trabalhou para a Varig, o jornalista Mário de Albuquerque reuniu histórias sobre os bastidores da empresa. Com 400 páginas, o livro Berta: Os Anos Dourados da Varig tem lançamento marcado para o dia 11 de maio, quatro dias depois da primeira companhia aérea brasileira completar 90 anos de fundação. Em 2007, a empresa foi comprada pela Gol.
Nessas quatro décadas, o ex-funcionário também colecionou todo tipo de material sobre a Viação Aérea Rio-Grandense, desde itens simples, como chaveiros, calendários e jogos americanos, até objetos cobiçados por amantes da aviação, como partes de aviões, réplicas de aeronaves (expostas a cada compra de um novo modelo pela companhia) e fotos históricas. Entre as imagens, estão retratos de várias fases da vida de Ruben Berta (1907-1966), presidente da empresa de 1942 a 1966, um ídolo de Albuquerque:
— Esse cara era fantástico, foi a pessoa mais importante da aviação comercial.
Para escrever o livro, no entanto, o autor afirma que se distanciou da admiração por Berta e não fechou os olhos a polêmicas:
— Ele é meu ídolo, mas isso não tirou de mim a ideia do jornalista investigativo.
Albuquerque entrou na Varig em 1954, quando tinha 20 anos, para atuar no setor de Controle de Serviços da Manutenção (CSM).
— Lá tinha um quadro enorme com os prefixos de todos os aviões. Naquele tempo, as aeronaves paravam em função das horas voadas, porque o motor tinha um determinado tempo para entrar em revisão. Então, a nossa responsabilidade era escalar os aviões em função disso. Era um verdadeiro jogo de xadrez — lembra.
Três anos depois, Albuquerque ganhou de Berta uma bolsa de estudos para a terceira turma de Jornalismo da PUCRS, formação que o fez atuar na divulgação da empresa depois. O jornalista conta que participou da criação de revistas da Varig, itens que também coleciona. Em seu acervo, ainda possui uma pasta com os anúncios publicitários da marca, organizados em ordem cronológica.
O volume de itens é tão grande que Albuquerque montou uma espécie de museu particular na garagem da casa onde vive. Localizada no bairro São João, ao lado do aeroporto Salgado Filho, a residência tem como "música ambiente" o som de pousos e decolagens, o que intensifica o ar saudoso do local pela aviação.
Entre as fotos históricas que conserva, estão registros de Berta ao lado de presidentes da República, principalmente Getúlio Vargas, de quem foi amigo pessoal. Há imagens de eventos oficiais e de visitas particulares de Berta a Vargas, na fazenda do presidente em São Borja.
Motor Rolls Royce ganhou disputa
O livro também aborda como a Varig venceu o episódio conhecido como a guerra "David x Golias" da aviação. O caso envolve a disputa da empresa brasileira com a concorrente Pan Am (Pan American World Airways), dos EUA, por um voo sem escalas do Rio de Janeiro para Nova York. A vitória da Varig ocorreu porque a companhia escolheu um motor inglês (Rolls Royce) para o Boeing 707, enquanto a Pan Am, segundo Albuquerque por questões de patriotismo, optou por um modelo fabricado nos Estados Unidos. Com a potência do equipamento inglês, a Varig conseguiu voar sem paradas, enquanto a rival tinha de fazer escala no Peru.
— Esse voo direto foi amplamente divulgado pela mídia. A Varig sabia fazer marketing muito bem — acrescenta o autor.
Albuquerque não se atém à aviação. Também fala sobre política, descrevendo como era a relação da Varig com os governos, principalmente de Getúlio Vargas a Itamar Franco, quando o jornalista deixou a empresa.
Um dos orgulhos de Albuquerque data de 1961. Ele conta ter sido um dos personagens do apoio da companhia à Campanha da Legalidade — ainda no setor de Controle de Serviços da Manutenção, foi o responsável por escalar o avião Caravelle que buscou João Goulart em Montevidéu, em um voo que entrou para a história:
— O governo tinha deflagrado a Operação Mosquito, em que a FAB (Força Aérea Brasileira) deveria derrubar qualquer avião que estivesse voando à noite. Os caras vieram com um Caravelle em voo noturno, com todas as luzes apagadas, voando baixinho para fugir dos radares. Era um risco, mas (o avião) chegou, foi um sucesso.
Mário da Varig
O jornalista Francisco Mário de Andreassi de Albuquerque, mais conhecido como Mário da Varig, passou 39 dos seus 83 anos trabalhando para a empresa, de 1954 a 1993. Na Varig, foi responsável pelas revistas Rosa dos Ventos, Revista do Museu Varig e Revista de Bordo Ícaro. Também foi membro do Colégio Deliberante da Fundação Ruben Berta por 20 anos e organizador do Museu Varig.
Entre as revelações do livro está uma foto inédita de Getúlio Vargas, que não poderia ser divulgada pela imprensa da época, conforme Albuquerque. Isso porque a imagem mostra como o presidente de aproximadamente 1m60cm de altura parecia, nas fotos oficiais, ter os cerca de 1m80cm de Ruben Berta.
Antes de ser fotografado ao lado do empresário, Vargas subia em uma espécie de estrado carregado por seus seguranças. Por isso, as fotos oficiais nunca mostravam os pés do presidente, como na imagem do acervo de Albuquerque. As fotos são de 1952, quando Berta foi condecorado por Vargas pelas bodas de prata da Varig, recebendo uma medalha de Honra ao Mérito no Dia do Trabalho, 1º de maio.
Lançamento da obra
O que: Lançamento do livro Berta: os anos dourados da Varig, do jornalista Mário de Albuquerque.
Quando: dia 11 de maio, a partir das 18h30min
Onde: Boulevard Laçador (Avenida dos Estados, 111 — bairro São João)
Como comprar: a obra poderá ser adquirida no evento ou, depois, nas livrarias da rede Cameron
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