LA PAZ, La Paz (departamento), 18 Jul 2013 (AFP) - O governo boliviano admitiu nesta quarta-feira que no final de 2011 agentes da polícia antinarcóticos revistaram na Bolívia um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), mas garantiu que a medida não teve relação com o senador asilado na embaixada do Brasil em La Paz.
'A vezes os (agentes) da Força Especial de Luta Contra o Narcotráfico cometem algumas infâmias porque não sabem se é um avião 'VIP' ou não. Houve uma reclamação (do Brasil) e esclarecemos isto', assinalou o chefe da diplomacia boliviana, David Choquehuanca, em entrevista à AFP.
Choquehuanca respondeu nestes termos um comunicado emitido na terça-feira pelo ministério da Defesa do Brasil sobre o incidente envolvendo o avião militar a serviço do ministro Celso Amorim, que não estava no aparelho.
Segundo Brasília, 'no segundo semestre de 2011 ocorreram ações por parte das autoridades bolivianas que configuraram violações da imunidade das aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), incluindo o avião que levou o ministro da Defesa em viagem oficial a La Paz no final de outubro de 2011'.
O governo brasileiro destacou que esta revista 'jamais' foi autorizada por Amorim e advertiu que 'tais procedimentos abusivos levarão à aplicação do princípio de reciprocidade'.
O chanceler boliviano destacou que a revista no avião da FAB 'não teve o objetivo de encontrar o senhor (senador Róger) Pinto', asilado há mais de um ano na embaixada brasileira em La Paz, mas sem salvo-conduto para sair da Bolívia.
Pinto, alvo de uma série de ações judiciais do governo Morales, pediu asilo ao Brasil alegando perseguição política.
La Paz nega o salvo conduto ao senador oposicionista alegando que Pinto está sendo processado no país por corrupção durante seu período de 10 anos como funcionário público, e que já foi condenado a um ano de prisão.
Choquehuanca revelou que o Brasil 'fez chegar uma nota verbal sobre procedimentos 'infames' que as vezes acontecem no aeroporto', e destacou que 'ele mesmo, que tem passaporte diplomático', já foi interpelado devido à falta de conhecimento dos policiais dos protocolos internacionais.
'Alguns funcionários não conhecem bem as normas internacionais e cometem alguns atropelos; é preciso capacitá-los'.
O ministro do Interior, Carlos Romero, informou que 'estamos fazendo as investigações correspondentes' e garantiu que 'não existe qualquer ordem de autoridade boliviana para a revista de aviões do Brasil ou de outro país'.
A oposição boliviana aproveitou a notícia do incidente com o avião do Brasil para assinalar que o governo de Evo Morales tem dois pesos e duas medidas: revista as aeronaves estrangeiras e fica indignado quando lhe pedem para seguir procedimentos similares, como ocorreu com o avião presidencial há duas semanas, sobre a Europa, sob suspeita de transportar o ex-analista de inteligência dos Estados Unidos Edward Snowden.
'O governo denuncia que impediram o presidente Morales a voar, mas este mesmo governo realiza estas revistas nos aviões de de países amigos', disse Adrián Oliva, deputado da opositora Convergência Nacional.
O líder do Movimento Sem Medo (MSM, centro esquerda), Juan Del Granado, afirmou que o governo tem um 'duplo discurso e uma dupla moral', além de 'mentir de maneira reiterada'.
jac/lr
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