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Brasileiro conta experiência de viajar pela 'pior companhia aérea do mundo'


Empresa norte-coreana é única com uma estrela em ranking de qualidade.
Aviões soviéticos são decorados à moda antiga e têm divisão de classes.

Flávia MantovaniDo G1, em São Paulo
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Uma viagem no tempo. Assim o gaúcho Gabriel Britto, de 36  anos, descreve sua experiência de voar pela companhia Air Koryo. A empresa norte-coreana é a única que tem apenas uma estrela no Skytrax, um conhecido ranking que avalia a qualidade de companhias aéreas no mundo todo, baseado em mais de 800 itens que são analisados por uma equipe.
Avião da Air Koryo (Foto: Arquivo pessoal)O avião soviético que transportou Gabriel até a Coreia do Norte (Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Britto)
Segundo o Skytrax, a classificação de uma estrela é dada àquelas companhias que têm “padrões muito baixos”,  com “qualidade inconsistente de serviço prestado a bordo e no entorno do aeroporto”. Sozinha na categoria de estrela única, a Air Koryo é considerada, por esse critério, a "pior companhia aérea do mundo".
Gabriel Britto em Pyongyang (Foto: Arquivo pessoal)Gabriel Britto em Pyongyang (Foto: Arquivo pessoal/
Gabriel Britto)
Gabriel não se intimidou com essa informação, nem quando soube que voaria em uma aeronave russa Ilyushin Il-62M – que, nas palavras de seu guia, teria sido fabricada “com sorte, na década de 70”. “A Air Koryo tem alguns aviões russos mais modernos também, mas eu queria viver a experiência de voar em um avião muito antigo e soviético”, diz.

Ele diz que se tranquilizou quando fez uma pesquisa no histórico de acidentes da companhia (foram registrados apenas dois casos em 50 anos), apesar de saber que os dados passados pela ditadura comunista não são confiáveis. “Fiquei um pouco tenso, claro, mas nada de mais”, afirma. Ele só preferiu não contar à mulher e aos pais que voaria pela Air Koryo, para poupá-los da preocupação.
'Casa de bisavó'
Produtor de conteúdo e redator publicitário, Gabriel gosta de viajar para destinos exóticos, e conta suas aventuras no blog Gabriel quer viajar.  Ele conta que tinha muita vontade de conhecer a Coreia do Norte, o país mais fechado do mundo. “É o lugar mais diferente que existe no mundo atual. Queria conhecer essa outra realidade”, afirma.
Avião da Air Koryo; aeromoças (Foto: Arquivo pessoal)Aeromoças servem cerveja de garrafa produzida na Coreia do Norte (Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Britto)
Para driblar a grande burocracia que envolve pedir uma permissão de viagem diretamente para o governo do país, ele optou por comprar um pacote de uma agência de viagens chinesa.
O voo de Pequim para Pyongyang (capital da Coreia do Norte) saiu com duas horas de atraso e estava lotado. Muitos dos passageiros eram turistas ou estrangeiros que desenvolviam ações humanitárias no país.
Revista do voo da Air Koryo (Foto: Arquivo pessoal)Revista de bordo com propaganda do governo
(Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Britto)
Os norte-coreanos podiam ser facilmente identificados pelo broche com a figura dos falecidos ditadores Kim Il-sung (chamado de “Grande Líder”) e Kim Jong-il (“Querido Líder”).
Apesar de pertencer a um país comunista,  o voo tinha divisão de classes: econômica e executiva.
A decoração interna seguia padrões estéticos antigos. “O interior parecia coberto por um papel de parede estampado, bege, que dava um ar de casa de bisavó para o ambiente. As poltronas tinham um tecido grosso, que parecia lã”, descreve Gabriel.

O espaço era tão apertado como o de outras aeronaves atuais, mas as poltronas se inclinavam tanto para trás quanto para a frente, o que permite esticar as pernas caso a cadeira da frente esteja vazia – “uma ideia maravilhosa dos soviéticos”, observa Gabriel.
As comissárias de bordo pareciam um pouco tensas e recriminavam os passageiros que pegassem na câmera fotográfica com um aviso de “No photo”.
Comida do voo da Air Koryo (Foto: Arquivo pessoal)A comida servida no voo
(Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Britto)
A comida, segundo Gabriel, era “terrível”. “Era muito insossa, não comi tudo. Lembro que tinha um pãozinho, uma espécie de mortadela, uma coisa meio gelada e doce. Comi porque estava com fome, só para encher a barriga”, descreve.

Entre as opções de bebida, água, cerveja norte-coreana (em garrafa de vidro) e refrigerantes locais – nada de Coca-Cola.

O entretenimento a bordo consistia apenas em uma revista em coreano, em que aparecia com frequência o atual líder do país em poses sorridentes e lugares bonitos. “Era totalmente um material de propaganda do governo”, diz Gabriel.
 
Gabriel Britto com norte-coreanos em Pyongyang (Foto: Arquivo pessoal)Gabriel Britto com norte-coreanos
que conheceu em um boliche
(Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Britto)
O voo durou menos de duas horas. Logo na decolagem, uma peça do acabamento se soltou do teto. “Não foi nada que comprometesse, mas foi engraçado. Você já está naquela situação, num avião russo, antigo. Na hora de decolar o negócio solta. Lembro que uma turista deu uma gargalhada muito alta”, conta ele.  O restante do voo não teve intercorrências.
Na chegada, já era possível ver no Aeroporto Internacional Sunan, a 24 km da capital, alguns dos problemas enfrentados pelo país. Cheio de militares, o local estava "largado", diz Gabriel. "Tinha muito capim alto do lado da pista. Os ambientes eram escuros, com luz fraca. A torre de controle ficava em um prédio completamente caindo aos pedaços, com remendos com madeira”, descreve.
Mas, no geral, a experiência superou as expectativas de Gabriel: “Achei um voo tranquilo, muito bom. Teve alguns problemas, mas, sinceramente, já vi companhias aéreas piores”.
Free shop do aeroporto da coreia do norte (Foto: Arquivo pessoal)"Free shop" do aeroporto de Sunan (Foto: Arquivo pessoal/Gabriel Britto)
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