Mais de 30% dos acidentes aéreos registrados no país com helicópteros na última década ocorreram no estado de São Paulo, conforme dados inéditos divulgados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que apura as tragédias aéreas do país.
O número é relativamente proporcional à frota de helicópteros que o estado representa. Conforme dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em dezembro de 2015, São Paulo tinha 33% dos helicópteros do país – 725 aeronaves, de um total de 2191. Atualmente, o Brasil tem 2.154, sendo que 700 foram registradas em São Paulo.
Neste domingo (11) completa uma semana do acidente com um helicóptero Robinson R44 Raven II que caiu em São Lourenço da Serra quando levava uma noiva para um casamento. Quatro pessoas morreram no acidente.
De 2006 a 2015, 211 acidentes e 50 incidentes graves com asas rotativas (helicópteros) ocorreram nos céus brasileiros – uma média anual de 22 acidentes e 5 incidentes graves. Em 2006, quando o levantamento começou a ser feito, foram 18 tragédias – número semelhante ao de 2015 (17). O número de incidentes graves, porém, chegou ao ápice no país em 2015 (9), o mesmo número registrado em 2013.
São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás representam, juntos, mais de 55,9% do total dos casos na década, conforme o Cenipa. Atrás de São Paulo (31,3%), estão o estado do Rio (18% do total das ocorrências na década) e Goiás (6,6%). Já em relação aos incidentes graves, Rio de Janeiro lidera o ranking (38%), com São Paulo na vice-liderança (14%). Os números brutos por estado na década e anualmente não foram divulgados pelo órgão.
Em 2006, quando o levantamento do Cenipa começou a ser montado, o Brasil tinha só 1.016 helicópteros - 457 baseados em São Paulo, 194 no Rio de Janeiro e 106, em Minas Gerais.
O número de acidentes com helicópteros no país vem caindo anualmente desde 2012, depois de chegar ao seu ápice nos últimos 10 anos em 2011, com 31 acidentes e 8 incidentes graves. Em 2014 foram registrados 20 acidentes e 6 incidentes e, em 2015, 17 acidentes e 9 incidentes. O ano com maior número de incidentes foi 2013 (9 registros).
O Cenipa distingue acidentes de incidentes graves baseado em padronização da Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO) conforme as características do evento, a intenção do voo e o grau de lesões ou danos causados. Ocorrências com mortes ou feridos são consideradas acidentes.
47,39% dos acidentes na década foram com helicópteros particulares durante o voo; 21,33% ocorreram durante voos de instrução e 14,22% quando estava sendo realizado o transporte por táxi aéreo.
Robinson 44
O modelo com maior frequência de quedas é o Robinson 44 (27,96% do total na década) – foram 59 quedas em 10 anos, sendo que 16 deles provocaram 31 mortes e 20 aeronaves ficaram totalmente destruídas. 32,2% dos acidentes com R44 foram no Estado de São Paulo, sendo 90% de uso particular e, em 37,29% das ocasiões, durante a decolagem.
Foi este modelo que caiu no domingo passado levando uma noiva a caminho do altar em São Lourenço da Serra, na Grande São Paulo. Também estavam na aeronave o irmão da noiva, uma fotógrafa e o piloto. Todos morreram. A investigação da Aeronáutica e da Polícia Civil apostam na interferência do tempo como uma das causas do acidente – chovia e o céu estava encoberto. Também há possibilidade do Robinson ter colidido as pás da hélice contra a copa de árvores.
Tombamento no Campo de Marte
Em segundo lugar na liderança dos helicópteros mais perigosos está o Robinson 22 (pequeno e usado para treinamento), representando 22,27% dos acidentes e incidentes graves na década. Em março deste ano, um R22 tombou no Campo de Marte, na capital paulista, com instrutor e aluno a bordo. Eles faziam um treinamento a cerca de um metro do chão quando houve uma forte rajada de vento.
Em maio, um piloto de 23 anos e uma fotógrafa de 31 anos morreram em uma queda do mesmo modelo durante uma travessia entre Santos e Cubatão. A fotógrafa alugava a aeronave para tirar fotos aéreas. Em 2010, outro R22 caiu e se estraçalhou no chão em um hangar também do Campo de Marte.
Em terceira posição está o Esquilo AS50, o mesmo usado pelo Grupamento Águia da Polícia Militar e que possui capacidade maior que os modelos anteriores (leva até 5 pessoas, mais o piloto). Este modelo representa 18% dos acidentes do país e encabeça a lista de incidentes graves, também com 18%.
Já acidentes com o helicóptero que caiu em abril de 2015 em Carapicuíba, na Grande São Paulo, matando o filho caçula do governador Geraldo Alckmin, Thomaz Alckmin. e mais quatro pessoas são mais raros. O modelo, Eurocopter EC-155 B1, não está nem na lista do Cenipa dentre os 10 modelos mais perigosos no país na década, tendo sido incluído dentre os outros modelos, que representam mais de 6% do total dos acidentes.
Nesta semana, o G1 divulgou com exclusividade que a Polícia Civil indiciou cinco pessoas pelo caso. A FAB creditou a queda à falta de travamento de um pino, do sistema de controle de direção do helicóptero.
Causas
A maioria dos acidentes com helicópteros no país desde 2006 foi de três tipos: perda de controle em voo (33,65%), falha de motor em voo (13,27%) e colisão em voo com obstáculo (12,8%). Julgamento sobre a pilotagem, problemas na supervisão gerencial, falta de planejamento adequado do voo e erro na aplicação de comandos foram os principais fatores que contribuíram para as quedas.
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