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PF apreende aviões e prende pela 4ª vez traficante que sequestrou avião da Vasp em 2000


A Polícia Federal brasileira desarticulou, esta terça-feira, uma mega-quadrilha responsável pelo tráfico de droga em vários estados do Brasil e em países vizinhos e apreendeu seis aeronaves usadas pelos traficantes e milhões em dinheiro que estava em contas atribuídas ao bando. Entre os vários presos na operação está o homem que a Polícia Federal aponta como o chefe máximo da organização criminosa, Gerson Palermo, de 59 anos, tão perigoso e audacioso que, segundo a corporação, em 2000 chegou a desviar um Boeing comercial cheio de passageiros.

A operação desencadeada ontem por mais de 150 agentes federais cumpriu 18 mandados de prisão, 25 de busca e apreensão e sete de condução forçada, quando o suspeito foi levado à força à sede da polícia para depor e libertado depois de ser ouvido. Foram cumpridos mandados nos estados de Mato Grosso do Sul, onde ficavam os líderes da quadrilha, Mato Grosso, Goiás, Paraná, Minas Gerais e São Paulo.

As seis aeronaves que a Polícia Federal afirma que eram usadas pela quadrilha foram apreendidas num aeródromo particular na zona rural da cidade de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, na fronteira com a Bolívia. Segundo o delegado (inspector) José António Franco, chefe da Divisão de Entorpecentes e que comandou a mega-operação, a quadrilha transportava grande quantidade de cocaína pura da Bolívia para Corumbá nas aeronaves, e desta cidade a droga era disseminada por vários estados do Brasil por estrada.

Gerson e a mulher foram presos em casa, num elegante bairro de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, e outros suspeitos foram presos no interior do estado e em outras regiões do Brasil.

Em 2000, Gerson, que já foi preso outras três vezes pela Polícia Federal mas foi libertado pela justiça, invadiu um Boeing 737-2A1(A) da companhia aérea brasileira VASP matrícula PP-SMG no aeroporto da cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná, fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai, forçou o piloto a desviar a rota e a aterrar num aeroporto no interior daquele estado, e roubou malotes que estavam no compartimento de carga e continham milhões em dinheiro vivo.
Gerson Palermo é preso pela PF durante a Operação All In, em Campo Grande

Na operação desta terça-feira, além das seis aeronaves e droga, a Polícia Federal apreendeu com a quadrilha em vários estados 35 veículos e outros bens. Em 68 contas bancárias atribuídas à quadrilha, a justiça bloqueou ao todo 2,2 milhões de euros, em em fundos falsos de alguns dos veículos apreendidos também foram encontradas quantias.

Ao longo da investigação, outros três traficantes já tinham sido presos e foram feitas duas grandes apreensões de estupefaciente. Só numa delas, a Polícia Federal apreendeu 800 quilos de cocaína, definida pelo delegado como de "extrema pureza".

Sequestro do Vasp 280
Boeing 737-2A1(A) da Vasp matricula PP-SMG

O relógio marcava 15 horas e 32 minutos do dia 16 de agosto de 2000 quando o Boeing 737-2A1(A) da Vasp, matricula PP-SMG, decolou de Foz do Iguaçu cumprindo o voo VP-280 com destino a Curitiba e Rio de Janeiro. Os 57 passageiros a bordo, a maioria estrangeiros, se acomodaram tranquilamente no avião, sem desconfiar de que cinco dentre eles embarcaram como nomes falsos no aeroporto. Esses cinco passageiros eram perigosos assaltantes, e tinham como alvo uma valiosa carga a bordo: Cinco milhões de reais, embarcados em nove malotes pela TGV, uma empresa de transporte de valores a serviço do Banco do Brasil.

Uma ação desse gênero não poderia ser feita com sucesso sem um mínimo conhecimento de navegação aérea e sem o conhecimento de regras de controle de tráfego aéreo. Um comandante experiente poderia facilmente acionar a Força Aérea e a Polícia Federal com o simples ato de selecionar o código 7500 no transponder da aeronave, e poderia facilmente iludir os sequestradores tomando uma rota diferente da ordenada pelos mesmos.

Entretanto, os sequestradores sabiam muito bem o que estavam fazendo, e o planejamento da ação foi perfeito. Doze minutos depois, tão logo a aeronave se estabilizou na subida, os bandidos sacaram armas leves automáticas e renderam a tripulação com rapidez. Pelo interfone, anunciaram aos passageiros que ninguém iria se machucar e que todos chegariam ao seu destino. Mesmo assim, os passageiros estrangeiros, que não falavam português se apavoraram, e logo imaginaram que estavam sendo rendidos por algum grupo terrorista sul-americano, como o Sendero Luminoso. Um passageiro chinês, em pânico, tentou abrir a porta de emergência em cima de uma das asas, mas foi rapidamente contido pelos sequestradores. Logo, todos os passageiros estavam acalmados e aguardavam ansiosamente o desenrolar da ação.

Os bandidos logo cercaram o passageiro Joelson Goes Maciel, representante da TGV em Curitiba, que acompanhava o transporte do numerário do Banco do Brasil. Ficaram decepcionados ao saber, pelos documentos, o valor do carregamento, "apenas" cinco milhões de reais.

Os sequestradores mandaram o comandante Sérgio Carmo dos Santos alterar a rota para a cidade de Porecatu, e desligar o rádio e o transponder. O comandante tentou argumentar, dizendo que não poderia pousar em Porecatu com segurança, mas os sequestradores sabiam que o o Boeing da Vasp poderia pousar tranquilamente lá, pois, embora o Aeroporto de Porecatu (foto de satélite abaixo) não seja atendido por nenhuma linha aérea, a pista é pavimentada e tem 2.100 metros de extensão, equivalente à pista de Londrina. O Boeing não somente poderia pousar, como também decolar sem problemas de Porecatu. Isso evidencia o alto grau de planejamento da ação.


Sem alternativa, o comandante tomou a proa de Porecatu e lá pousou. Apenas quatro pessoas estavam no aeroporto quando o Boeing pousou, dois pilotos, um segurança e um mecânico. O aeroporto de Porecatu era perfeito para um sequestro, uma pista excelente mas nenhuma proteção, nenhum policial e nenhum controle de acesso. Logo após o pouso, a ação foi rápida e simples: quatro dos cinco sequestradores desembarcaram, pediram para os tripulantes indicar em que local do bagageiro estava a carga e carregaram rapidamente os malotes de dinheiro para duas caminhonetes Ford Ranger que os aguardavam no aeroporto. Alguém afirmou que um tiro teria sido disparado, mas isso não foi confirmado e ninguém ficou ferido. Nenhum passageiro ou tripulante foi agredido pelos bandidos, que rapidamente se evadiram do local nas caminhonetes, sem levar nenhum refém. A ação toda, desde o início, durou apenas cerca de 40 minutos, menos que a maioria dos sequestros-relâmpagos de pessoas nas grandes cidades.

Os pilotos, após a evasão dos sequestradores, embarcaram novamente no avião e decolaram. Acionaram as autoridades pelo rádio e acabaram pousando em Londrina, a 90 Km de distância, às 16 horas e 30 minutos. Em Londrina, os passageiros foram confinados ao avião até que fossem conferidas suas identidades, pois se suspeitava que um dos sequestradores ainda estava a bordo. Todos acabaram liberados e embarcaram em aviões de outras empresas aéreas para os seus respectivos destinos.

As Polícias Civil e Militar em Porecatu fizeram uma varredura na região, mas localizaram apenas uma das caminhonetes Ranger abandonada. A Polícia Federal tentou fazer um retrato falado dos sequestradores, com base em informações dos tripulantes e alguns passageiros, e logo chegou em um suspeito, Marcelo Moacir Borelli (foto abaixo), que tinha no seu extenso "currículo" dois outros assaltos à TGV, a empresa responsável pelo transporte do dinheiro a bordo do Vasp 280. Borelli e outros assaltantes do VP-280, como Gerson Palermo, acabaram capturados depois de algum tempo, mas o dinheiro nunca mais foi recuperado.

Entre os vários pontos intrigantes da ação, estão o conhecimento do carregamento pelos bandidos, que normalmente é feito de forma sigilosa justamente para prevenir assaltos. Os sequestradores sabiam até em que bagageiro do avião a carga iria ser carregada. Outro ponto obscuro é: como as armas foram parar a bordo? Os passageiros passam por inspeção de raio-x e detectores de metal quando embarcam. Isso levanta a possibilidade de que alguma pessoa, das mais de 20 que tem acesso ao avião enquanto o mesmo está no pátio, possa ter colocado as armas a bordo antes do embarque. Outra possibilidade é que as armas possam ter sido colocadas em outros aeroportos por onde a aeronave tenha passado antes.


Em 11 de janeiro de 2007, quando cumpria pena de 177 anos de prisão na Penitenciária de Piraquara, em Curitiba, o líder da ação, Marcelo Borelli, que recusava qualquer tratamento médico faleceu devido à AIDS, aos 38 anos de idade.


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